Este disco de estreia é um sopro de alma britânica com sotaque de soul tradicional, temperado por produção sofisticada o suficiente para soar contemporâneo em meados dos anos 80, mas com raízes firmes em influências dos anos 60 e 70. Mick Hucknall revela uma voz já madura, emotiva e potente — aquelas notas mais altas emocionam — e embora haja baladas introspectivas (como “Holding Back the Years”), há também músicas com groove marcado e arranjos de metais e teclados que trazem densidade e charme.

Liricamente, o álbum vai além do amor romântico: há consciência social, desigualdade, vida cotidiana de quem luta para sobreviver, o que confere autenticidade. A mistura entre covers (como “Money’s Too Tight (to Mention)”) e composições próprias mostra ambição e versatilidade. Produção limpa, mas sem esterilidade: instrumentos orgânicos, percussão bem colocada, saxofones que enriquecem o espectro, vocais de apoio que embalam a voz principal.

Em comparação com trabalhos posteriores, Picture Book soa mais cru em certos momentos — há uma urgência, um frescor que depois será polido —, porém esse frescor é também sua força: apresenta simplesmente um grupo que conhece suas influências e decide usá-las para construir algo próprio, com sentimento e apelo pop, sem abrir mão da alma.

Mick Hucknall – voz principal, vocais de apoio, piano acústico
Fritz McIntyre – teclados, vocais de apoio
Tim Kellett – teclados, trompete, vocais de apoio ao vivo
Sylvan Richardson – guitarra
Tony Bowers – baixo elétrico
Chris Joyce – bateria e percussão

Músicos adicionais
David Fryman – guitarra, vocais de apoio numa das faixas (“Open Up the Red Box”)
Ronnie Ross – saxofone barítono em faixas selecionadas
Ian Dickson – saxofone tenor em faixas selecionadas
Francis Foster – percussão (congas) em algumas músicas